quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

De repente, Paulo Sant’Ana!



Estou à beira de meus 40 anos os quais me esperam, ansiosos. Talvez, por isso, ando mais sensível e com uma compreensão maior das atitudes humanas ou, pelo menos, sem a ânsia de julgá-las. Quando vim morar no RS, nos meus jovens 16 anos, passei a conhecer um personagem polêmico e famoso da imprensa gaúcha. Uma sumidade na profissão, reverenciado por quase todos. Trata-se de Paulo Sant’Ana. Dono de um texto brilhante, com opiniões contundentes, sempre foi exemplo de honestidade e justiça. Gremista assumido e ferrenho adora cantar e encantar... Na manga, sempre tem uma boa tirada, repleta de humor ácido, daqueles de aplaudir de pé...

Bom, preciso confessar que sempre o admirei como jornalista brilhante, inteligente, genial que é. Como homem, tinha ressalvas, pois ouvia coisas sobre ele que não admirava, ao contrário... essas informações me deixavam longe do ser humano Paulo, mesmo que indiscutivelmente esse esteja atrelado ao profissional cujas crônicas sempre acompanhei, ainda que, ás vezes, à sorrelfa...

Acontece que há alguns , um corajoso Sant’Ana assumiu, publicamente, um câncer, surpreendendo a todos. (Mesma doença injusta que levou de nós, recentemente, meu tio mais querido). Passei a admirá-lo por completo, uma vez que se expôs por inteiro em narrativas pessoais sobre seu drama. Todas suas agruras me fizeram imaginar como meu tio se sentiu em seu penoso e rápido calvário.

Bom, acontece que ontem, durante um aprazível passeio na Padre Chagas, literalmente, topei com um Sant’Ana sentado à mesa de um café. Minha primeira reação foi de euforia misturada com surpresa. Quis abraçá-lo e confortá-lo, mas com qual intimidade faria isso? Resignei-me em outra mesa, pensando nele o tempo todo. Eis que, de repente, sua figura entrou e pediu ao garçom a conta. Foi nesse momento que pedi uma foto.

Debilitado, amparado por sua nova e imprescindível companheira: uma bengala, não ouviu meu pedido na primeira tentativa. Repeti e assentiu. O encontro já havia me tocado sobremaneira e, hoje, ao ouvir sua participação no Sala de Redação, na Rádio Gaúcha, me fez chorar. Isso porque ele também chorou, no ar, ao relatar que não conseguiu sorver dois goles de sopa. Triste. Fiquei sem ar lembrando o que meu tio sentiu, mas nunca nos falou.

Me senti culpada por ter julgado Paulo em algum momento. Que direito tenho de fazê-lo com ele ou com qualquer outro? Todos têm sua própria dor por arcar com as escolhas que fez na vida. Por isso, peço perdão, mesmo que ele não saiba.

Isso me faz ver que nosso tempo por aqui é curto. É preciso plantar mais rosas que espinhos...

Um forte e carinhoso abraço, Sant’Ana.